Outros loucos

23 de fevereiro de 2012

13 de setembro de 2011

Dedo do Diabo

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Eu já parei de beber, de comer e de rasgar meu couro
Eu já troquei os meus vizinhos,
Já não falo mais sozinho
Eu já nem sei o que é perder a memória
Sentar nas ruas só pra passar a hora
Sei que nunca vi teu deus,
Também pouco sei dos meus
Já quebrei até os meus discos
Você diria que é do amor a culpa disso
E eu ainda acho que o diabo tem dedo nisso

15 de fevereiro de 2011

Brutos também amam

O Estupidamente Gelada dessa semana aproveita o Valentine's Day para mostrar que os brutos também amam... Pelo menos até o carnaval!





Estamos vivos

Ela é tão linda que de vê-la faz sorrir
Fecho os olhos de alegria
Quando ela pede pra fazer de mim sua casa

Não vejo a vida como via
E vejo que ela tem talento pra ser
Daqui pra frente, meu futuro e presente
Com tudo mais o que tiver que ser

Todos dizem que semelhança é pouca
E nem tantas desgraças nós vimos
Por isso juntei meus versos só pra dizer que
Agradecemos, mas ainda estamos vivos.

5 de fevereiro de 2011

Mil Perdões

Todos os dias, Paloma se levantava religiosamente às seis horas da manhã, calçava seus chinelos, e arrastava-se até o banheiro. Repugnava seus cabelos esvoaçados, passava-lhes a escova e os prendia com um elástico. Lavava o rosto e nele observava o tempo passando; Caminhava até a cozinha, lá, separava um velho bule e o enchia de água até a metade, em seguida, fazia boiar o pó de café, como aprendera com sua avó. Cronometrava os minutos. As seis e quinze, o café já estava coado dentro da garrafa térmica, aguardando ansiosamente para ser tomado. Seis e dezoito da manhã, Paloma voltava ao quarto e guardava por dois minutos o sono de Roberto.  Ia até a área e passava a camisa que ele escolhera para ir trabalhar, vincava-lhe a calça e deixava seus sapatos e meias sobre a cadeira do quarto. O despertador alarmava exatamente às seis e meia, arrancando Roberto da cama e trazendo-lhe a realidade de somente ter que escolher a cueca mais confortável para vestir. Precisamente, as seis e quarenta e cinco, ele já estava arrumado com sua pasta sobre o sofá mais próximo da porta e Paloma o aguardava sentada à mesa da cozinha, separando-lhe uma xícara de café e um pão com manteiga.
- Merda, você pôs muita manteiga!
As sete, ele saia. Paloma, então voltava a dormir o quanto mais era necessário.
Na manhã seguinte, como nos últimos doze anos, Paloma se levantou às seis horas da manhã, calçou seus chinelos, arrastou-se até o banheiro, repugnou seus cabelos esvoaçados e passou-lhes a escova. Lavou o rosto e nele observou o tempo passando. Soltou os cabelos e achou melhor assim. Roberto não percebeu. As sete, ele saiu.
 Em dia de feira, Paloma pegava seu carrinho de compras e calçava seus chinelos vermelhos surrados, mas naquele dia, percebeu que eles não combinavam tanto com seu vestido azul. Pôs umas sandálias recém tiradas da caixa, e dessa vez reparou que as sandálias eram bonitas demais para um vestido tão simples. Eram tão bonitas que Paloma trocou de vestido. Sorria para o espelho observando seu corpo, até que viu seu rosto pálido e sem luz. Pegou seu estojo de maquiagem, corou os lábios e as bochechas, e sorriu novamente. Saiu de casa e foi seguida por olhares famintos por todo o caminho. Olhares, estes, que lhe coravam a pele de tanta timidez, mas que também inflaram o seu ego. Quis esperar Roberto daquela forma, mas naquela noite recebera uma ligação de Roberto avisando sobre mais uma hora extra.
Ela o esperou até as vinte e duas horas, mas o medo de que aquela beleza não se guardasse para ele, fez com que ela quisesse mostrar ao mundo uma Paloma que há tempos Roberto a impedia de ver. Olhou-se pela ultima vez no espelho e suspirou apaixonada.
Saiu.
 Antes de bater a porta, lembrou-se de deixar um bilhete para  Roberto que dizia:

Querido, conheci uma nova pessoa.
Não se sinta mal, pois estou muito feliz por amá-la...
E espero que um dia possa me perdoar, porque eu te perdôo.

De mim, para uma pessoa supersônica.

29 de janeiro de 2011

MULHRES DE A(n)TENAS


MULHERES DE ANTENAS

Não sei por que tanta pergunta
Não sabe que a verdade também machuca?
Não foi mentira e nem omissão
Não vem com essa de que é traição
Você vasculha bolso e telefone
 Depois “cê” surta se encontra outro nome
Cê procurou, achou e eu avisei,
Só não pergunta quem é Tânia, que eu não sei
Era a frentista do posto,
A moça do trem ou a estudante
A manicure,
A minha chefe, ninguém importante
Mas eu já to entediado
É todo dia a mesma história de que tem algo errado
Não sei porque tanta pergunta
Não sabe que a verdade também machuca?
Tá tudo direito
Eu tenho direito de permanecer calado!
Amor quando é amor,
Pausa mais não para
Hoje sim, amanhã não,
Amor, não fique preocupada
Que eu sempre volto
Pra minha mulher de antenas ligadas.


Não entendeu nada? Ouça Mulheres de Atenas, e se emputeça também com Chico Buarque.


24 de janeiro de 2011

Hein ?

Encontrar, encantar-se
Empolgar, embasbacar-se
Enamorar, encolher-se
Enceguecer, ensurdecer
Encobrir, enervar-se
Encasquetar, enciumar-se, entredevorar-se
Enganar, encenar, engambelar, engrupir  
Engolir, enfadar-se, entontecer
Entristecer, enlouquecer
Envergonhar-se, embriagar-se
Encontrar, encantar-se
Empolgar, embasbacar-se

Enamorar, encolher-se

Enceguecer, ensurdecer...

Mas, heim?

18 de janeiro de 2011

Catharina Cosini em Papo de Analista


 
Acabo de voltar da minha primeira consulta com a Doutora Lorena, mas tenho que deixar bem claro, Lorena é minha analista. Psicólogo é coisa pra surtado! Ela deve ter seus pacientes desequilibrados, mas a mim, ela só analisa!
Minha consulta estava marcada para o primeiro horário após o almoço, que era de 12:00 à 13:00. Cheguei exatamente 11:30.
Por que diabos, todos param seus afazeres durante o horário de almoço?
Alguém poderia passar na rua... E se me vissem? Eu teria de inventar uma história muito convincente, “estou trabalhando!”... E se fosse algum amigo? “Mas você não leciona no Marquês de Souza?”... ”vim encaminhar um aluno, coitadinho!”. Parecia uma boa história...
Cheguei com tanta antecedência que ninguém me viu, todavia esperei mais de duas horas para ser atendida. Se fosse um caso de vida ou morte, já não haveria nada a ser feito.
Na sala de espera havia só a recepcionista e uma jovem que estava aguardando a consulta também... As duas tinham caras de problemáticas. Conclui que todos que frenquentam aquele lugar, adquirem feições que dizem ”Surtei, mas to me tratando!”. Disfarcei, andei devagar até o banheiro, lavei o rosto e procurei marcas psicóticas nele: “viu, você não é louca!”, disse numa tentativa de me acalmar. Voltei à recepção com ar de superioridade. Segundos depois resolvi observar a garota sentada a minha frente. Repeti mentalmente ”Aham... Interessante” enquanto fazia minhas observações. Ela tinha os cabelos curtos que mais pareciam ter sidos cortados por uma cabeleireira cega e com uma navalha (cega)... Estava com um vestido floral, desses da moda, mas não lhe caia assim tão bem... “Talvez eu devesse avisá-la”... “Não! Deixa assim” meu diabinho ordenou, e eu obedeci. Eu ria por dentro. “Não é que psicólogo ajuda mesmo a gente?!”. Aquilo era melhor do que ir à praia quando se está um pouquinho acima do peso, sempre existe alguém bem pior para melhorar sua auto-estima! Sorri. Todos me viram sorrindo. Devem ter pensado: “ela é louca, pobrezinha”. Arregalei os olhos para ver se alguém estava me observando, mas ninguém estava. Devem pensar: “não vou olhar pra ela, vai que ela pensa que pode puxar assunto?”. O sangue me queimava o rosto de vergonha. Abaixei a cabeça e desfolhei uma revista de fofocas. “Olha, a Débora Boavida se separou do Jean Grassano...”.
Uma risada irritante interrompeu meus pensamentos, quando vi, era a recepcionista falando ao telefone, mascando um chiclete, e lixando as unhas, compulsivamente, como se o mundo não pudesse acabar antes que suas garras estivessem bem lixadas. ”mas, e aí, o que ele disse?... Sério?” Estalando a língua de um jeito que enojava e completando com mais risadas histéricas. Olhei para a cara dela e reparei que tinha um rosto insignificante demais para que eu formasse alguma opinião a respeito dela. 
Minutos depois entrou uma loira, com umas sérias rugas na testa... Jurei que não iria ficar reparando as pessoas... Mas ela estava vestida como uma adolescente de dezessete anos! Uma calça jeans colada, marcando bem o corpo que era até bem modelado, com exceção de... “olha, aquele pneu ali!”. Ninguém é perfeito. Tinha olhos grandes, a boca também... “Hum... cara de mulher fácil...” Resolvi voltar a ler revista.
Quando a recepcionista se levantou e gritou meu nome com uma voz quase fanha, pensei em duas coisas: a primeira seria levantar como se não fosse comigo, e ir embora antes que todos soubessem que uma Cosini é tão louca que está prestes a ser atendida por uma psicóloga. A segunda seria caminhar lentamente em direção ao balcão. Foi o que resolvi fazer, mas quis deixar bem claro  que estava entrando num consultório de uma analista e não de uma psiquiatra... ”que é o que vocês precisam, seus...”. “Catharina Cosini, sala 3, por favor”. Entrei.
Dentro da sala da Doutora havia um porta-retrato com uma foto de uma mulher a abraçando.  “será que ela é sapatão?”, pensei. “Minha filha, Amanda” disse ela com uma voz rouca. “Coincidência, ela me viu olhando a fotografia... Só pode!”, era nisso que eu queria acreditar. Ainda um pouco assustada, fiquei olhando pra ela, enquanto ela se ajeitava e desajeitava em uma cadeira giratória. Ficamos nessa por quase 5 minutos. “Vou embora” eu disse. Ela se levantou, me ofereceu café, se serviu, sentou-se novamente, me olhou como quem diz ”você pagou uma consulta a toa, sua louca?” e falou: ”Por que tão cedo? Vamos conversar”. Então eu disse com muita propriedade: “Não! Eu não preciso estar aqui... Realmente não sei o porquê vim”. “Se veio é por que quer conversar sobre seus problemas”, respondeu com cara de “elementar, minha cara, Catharina”. Eu repeti que não tinha problemas. Ela disse “todos temos”. Olhei para o diploma na parede e fiquei com medo de pensar que era de uma faculdadezinha barata. Então ela completou “olha, a maioria dos pacientes agem assim quando vem pela primeira vez, é normal...”, eu a interrompi e disse “eu sou perfeitamente normal! Quando digo que não tenho problemas, é porque não os tenho mesmo! Vim porque minha profissão é estressante e dizem que é bom fazer análise, mas nem minha profissão me irrita!”. “Veja bem, Catharina, ninguém reage a tudo da mesma forma, e se você diz que não tem problemas, pode ir, foi um prazer conhecê-la”. Olhou para porta e fez algumas anotações. “é sério? É pra eu ir embora mesmo?”. Ela fez com a cabeça que sim... Eu disse: ”olha, Lorena, eu não tenho problemas, não mesmo! Não quero que você pense que sou uma louca como os que estão lá fora...”. Ela perguntou se haviam loucos lá fora, então eu continuei: “Tem uma garota depressiva de cabelos mal cortados; uma loira infantil com cara de safada, aposto que ela é ninfomaníaca... e a sua recepcionista fofoqueira, que estava gastando o telefone da clínica para falar com as amigas? Nem tenho comentários sobre ela! Elas tem escritas na testa que comprovam que tem distúrbios”. “Você é bem observadora, sabia?”, ela disse. Eu completei: “Sim, sou. Cheguei aqui duas horas antes da consulta, tive tempo pra observar tudo”. Ela disse impressionada: ”duas horas?”. Eu a expliquei que não queria que ninguém me visse, contei as desculpas que havia ensaiado e todas as observações que fiz durante a espera. Ela suspirou e disse: ”Aham... Entendo”... Eu continuei: “Viu, não preciso mesmo estar aqui...”. Segundos depois ela sorriu e disse: “Tudo bem, Catharina, pode ir. Nosso tempo já está se esgotando”, disse olhando para o relógio. “Nossa, passou tão rápido, sorte que ficou tudo entendido... Eu não sou louca”, falei sorrindo. Ela sorriu novamente e disse enquanto me encaminhava até a porta: “Não, não é, Catharina, mas passe na recepção e marque uma consulta dupla, ok.”