Outros loucos

18 de janeiro de 2011

Catharina Cosini em Papo de Analista


 
Acabo de voltar da minha primeira consulta com a Doutora Lorena, mas tenho que deixar bem claro, Lorena é minha analista. Psicólogo é coisa pra surtado! Ela deve ter seus pacientes desequilibrados, mas a mim, ela só analisa!
Minha consulta estava marcada para o primeiro horário após o almoço, que era de 12:00 à 13:00. Cheguei exatamente 11:30.
Por que diabos, todos param seus afazeres durante o horário de almoço?
Alguém poderia passar na rua... E se me vissem? Eu teria de inventar uma história muito convincente, “estou trabalhando!”... E se fosse algum amigo? “Mas você não leciona no Marquês de Souza?”... ”vim encaminhar um aluno, coitadinho!”. Parecia uma boa história...
Cheguei com tanta antecedência que ninguém me viu, todavia esperei mais de duas horas para ser atendida. Se fosse um caso de vida ou morte, já não haveria nada a ser feito.
Na sala de espera havia só a recepcionista e uma jovem que estava aguardando a consulta também... As duas tinham caras de problemáticas. Conclui que todos que frenquentam aquele lugar, adquirem feições que dizem ”Surtei, mas to me tratando!”. Disfarcei, andei devagar até o banheiro, lavei o rosto e procurei marcas psicóticas nele: “viu, você não é louca!”, disse numa tentativa de me acalmar. Voltei à recepção com ar de superioridade. Segundos depois resolvi observar a garota sentada a minha frente. Repeti mentalmente ”Aham... Interessante” enquanto fazia minhas observações. Ela tinha os cabelos curtos que mais pareciam ter sidos cortados por uma cabeleireira cega e com uma navalha (cega)... Estava com um vestido floral, desses da moda, mas não lhe caia assim tão bem... “Talvez eu devesse avisá-la”... “Não! Deixa assim” meu diabinho ordenou, e eu obedeci. Eu ria por dentro. “Não é que psicólogo ajuda mesmo a gente?!”. Aquilo era melhor do que ir à praia quando se está um pouquinho acima do peso, sempre existe alguém bem pior para melhorar sua auto-estima! Sorri. Todos me viram sorrindo. Devem ter pensado: “ela é louca, pobrezinha”. Arregalei os olhos para ver se alguém estava me observando, mas ninguém estava. Devem pensar: “não vou olhar pra ela, vai que ela pensa que pode puxar assunto?”. O sangue me queimava o rosto de vergonha. Abaixei a cabeça e desfolhei uma revista de fofocas. “Olha, a Débora Boavida se separou do Jean Grassano...”.
Uma risada irritante interrompeu meus pensamentos, quando vi, era a recepcionista falando ao telefone, mascando um chiclete, e lixando as unhas, compulsivamente, como se o mundo não pudesse acabar antes que suas garras estivessem bem lixadas. ”mas, e aí, o que ele disse?... Sério?” Estalando a língua de um jeito que enojava e completando com mais risadas histéricas. Olhei para a cara dela e reparei que tinha um rosto insignificante demais para que eu formasse alguma opinião a respeito dela. 
Minutos depois entrou uma loira, com umas sérias rugas na testa... Jurei que não iria ficar reparando as pessoas... Mas ela estava vestida como uma adolescente de dezessete anos! Uma calça jeans colada, marcando bem o corpo que era até bem modelado, com exceção de... “olha, aquele pneu ali!”. Ninguém é perfeito. Tinha olhos grandes, a boca também... “Hum... cara de mulher fácil...” Resolvi voltar a ler revista.
Quando a recepcionista se levantou e gritou meu nome com uma voz quase fanha, pensei em duas coisas: a primeira seria levantar como se não fosse comigo, e ir embora antes que todos soubessem que uma Cosini é tão louca que está prestes a ser atendida por uma psicóloga. A segunda seria caminhar lentamente em direção ao balcão. Foi o que resolvi fazer, mas quis deixar bem claro  que estava entrando num consultório de uma analista e não de uma psiquiatra... ”que é o que vocês precisam, seus...”. “Catharina Cosini, sala 3, por favor”. Entrei.
Dentro da sala da Doutora havia um porta-retrato com uma foto de uma mulher a abraçando.  “será que ela é sapatão?”, pensei. “Minha filha, Amanda” disse ela com uma voz rouca. “Coincidência, ela me viu olhando a fotografia... Só pode!”, era nisso que eu queria acreditar. Ainda um pouco assustada, fiquei olhando pra ela, enquanto ela se ajeitava e desajeitava em uma cadeira giratória. Ficamos nessa por quase 5 minutos. “Vou embora” eu disse. Ela se levantou, me ofereceu café, se serviu, sentou-se novamente, me olhou como quem diz ”você pagou uma consulta a toa, sua louca?” e falou: ”Por que tão cedo? Vamos conversar”. Então eu disse com muita propriedade: “Não! Eu não preciso estar aqui... Realmente não sei o porquê vim”. “Se veio é por que quer conversar sobre seus problemas”, respondeu com cara de “elementar, minha cara, Catharina”. Eu repeti que não tinha problemas. Ela disse “todos temos”. Olhei para o diploma na parede e fiquei com medo de pensar que era de uma faculdadezinha barata. Então ela completou “olha, a maioria dos pacientes agem assim quando vem pela primeira vez, é normal...”, eu a interrompi e disse “eu sou perfeitamente normal! Quando digo que não tenho problemas, é porque não os tenho mesmo! Vim porque minha profissão é estressante e dizem que é bom fazer análise, mas nem minha profissão me irrita!”. “Veja bem, Catharina, ninguém reage a tudo da mesma forma, e se você diz que não tem problemas, pode ir, foi um prazer conhecê-la”. Olhou para porta e fez algumas anotações. “é sério? É pra eu ir embora mesmo?”. Ela fez com a cabeça que sim... Eu disse: ”olha, Lorena, eu não tenho problemas, não mesmo! Não quero que você pense que sou uma louca como os que estão lá fora...”. Ela perguntou se haviam loucos lá fora, então eu continuei: “Tem uma garota depressiva de cabelos mal cortados; uma loira infantil com cara de safada, aposto que ela é ninfomaníaca... e a sua recepcionista fofoqueira, que estava gastando o telefone da clínica para falar com as amigas? Nem tenho comentários sobre ela! Elas tem escritas na testa que comprovam que tem distúrbios”. “Você é bem observadora, sabia?”, ela disse. Eu completei: “Sim, sou. Cheguei aqui duas horas antes da consulta, tive tempo pra observar tudo”. Ela disse impressionada: ”duas horas?”. Eu a expliquei que não queria que ninguém me visse, contei as desculpas que havia ensaiado e todas as observações que fiz durante a espera. Ela suspirou e disse: ”Aham... Entendo”... Eu continuei: “Viu, não preciso mesmo estar aqui...”. Segundos depois ela sorriu e disse: “Tudo bem, Catharina, pode ir. Nosso tempo já está se esgotando”, disse olhando para o relógio. “Nossa, passou tão rápido, sorte que ficou tudo entendido... Eu não sou louca”, falei sorrindo. Ela sorriu novamente e disse enquanto me encaminhava até a porta: “Não, não é, Catharina, mas passe na recepção e marque uma consulta dupla, ok.”

    

7 comentários:

  1. Gostei bastante! Catharina louca..rs. Quero ler mais, vou colocar nos meus Favoritos.
    douglas.

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  2. Adoro tuas historias e espero que você continue se dedicando à elas . Eu teria pensado o mesmo que a Catharina,vendo a foto na sala da doutora.
    HAHA Parabéns . Vou passar aqui MUITAS vezes .

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  3. Volte sempre, a sobremesa é cortesia!
    Não falara isso?

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  4. Me deixou a desejar...

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  5. Pensei que teria uma história nessa conversa com a Analista. Queria mais! Não gostei de ela ter digo a todo instante que não era louca. Mas ainda assim, o final ficou muito bom!

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  6. Adorei e estou seguindo.
    http:downbigmovies.blogspot.com

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  7. Você é 10, apple!

    Não se esqueça de contar essa história pra sua analista,rs.

    beeijos..^^

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Diz ae...